Ano passado comecei a acompanhar um menino que tinha um histórico de uso quase mensal de antibióticos por causa de uma dor de garganta recorrente. Até indicação de cirurgia a sua mãe já tinha recebido.
O atendi pela primeira vez em uma dessas crises e, após examiná-lo, optei por observar mais uns dias para avaliar como o quadro iria evoluir, deixando meu número a disposição da mãe para entrar em contato quando precisasse, algo que sempre faço com meus pacientes. Como ela ainda não me conhecia, percebi que ficou apreensiva, pois ele " só melhorava com amoxicilina com clavulanato", segundo ela me disse.
Nos dois dias seguintes nos falamos algumas vezes, eu sempre a tranquilizando de que não havia até o momento indicação para iniciarmos antibiótico. No terceiro dia ela me mandou uma mensagem super feliz me dizendo que a febre não tinha mais retornado e a dor tinha melhorado, sem acreditar que tudo tinha se resolvido somente com sintomáticos.
Um dos princípios básicos da medicina é o de “primum non nocere” , expressão em latim que significa " primeiro não prejudicar".
Tenho muitos pacientes que vêm com históricos de uso repetidos de antibióticos, inúmeros raio-x de seios da face, que em um primeiro momento podem estranhar a minha conduta diferente da que vinham recebendo ao longo do tempo. Mas além de tratar a gente precisa não fazer mal. Não fazer exames desnecessários, medicamentos desnecessários, cirurgias desnecessárias.
Quantos pacientes deixaram de usar antibiótico recorrentemente após eu começar a acompanhá-los. E muitas vezes é difícil quebrar esse ciclo, pois podem não acreditar que a dor de garganta vai melhorar sem a amoxicilina. Por isso é muito importante você ter um médico de sua confiança e com conhecimento atualizado na sua área de atuação.
Acredite, solicitar exames em grande quantidade não é sinônimo de bom atendimento.
Tenha um médico para chamar de seu.
Dra Barbara Sisnando - Otorrinolaringologista
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